quinta-feira, 25 de outubro de 2007

“O preconceito está na falta de oportunidade”

Foto: arquivo pessoal


No universo predominantemente masculino, uma jornalista profissional entra em campo: é a assessora de imprensa do Clube Náutico Capibaribe, Rafaela Queiroz.

Antes de chegar aos Aflitos, Rafaela Queiroz, de 26 anos, foi repórter em um programa esportivo do ‘canal 9’, que hoje é a ‘TV Clube’, trabalhou na rádio ‘Universitária AM’, também em um programa de futebol e foi apresentadora e produtora da rede ‘Estação Sat’.

O dia 1º de maio de 2006 foi a estréia da jornalista na assessoria de imprensa do Náutico. Raramente um rosto feminino aparece nas assessorias de futebol dos times pernambucanos. Na entrevista, Rafaela Queiroz fala da decisão pelo jornalismo, revela as dificuldades para entrar no meio esportivo, explica como é o trabalho na assessoria do Náutico e dá dicas para as jovens mulheres que desejam trabalhar no jornalismo esportivo.

Rafaela, você sempre quis trabalhar como jornalista esportiva?

Foi complicado. Eu nem queria saber de jornalismo. Na verdade, queria fazer letras, ser professora. Cheguei a cursar, passei um período e vi que não era a minha praia. Então fui inventar de fazer jornalismo. No quarto ou quinto período, mais ou menos, recebi o convite do canal 9, atual TV Clube. Essa parte de esporte é comandada por Roberto Nascimento, foi aí que comecei a gostar de jornalismo esportivo. E me apaixonei.

Mané Queiroz, seu pai, é um dos grandes radialistas esportivos de Pernambuco. Isso influenciou na sua escolha?

Desde quando eu era menina, quer dizer, eu nem existia ainda (risos) e o meu pai já trabalhava com futebol. Mas nunca pensei em fazer jornalismo esportivo. Só depois que tive a oportunidade de trabalhar na televisão. A partir daí, comecei a ver que era a minha área mesmo. Entrei de cabeça e estou até hoje.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar na assessoria do time alvirrubro?

Eu tinha começado com Roberto Nascimento na televisão, mas também trabalhava em um programa de futebol, comandado por José Bezerra, na rádio Universitária AM e tinha um programa de música todos os sábados. Logo depois, fui chamada para a TV Estação, que era o programa de Roberto Queiroz e Ralf de Carvalho, quem apresentava era Leonardo Boris. Nessa mesma época, Marcela Rafael, que trabalhava na assessoria do Náutico saiu e eu jogo basquete aqui, nos Aflitos, de vez em quando. Então o gerente de futebol do Clube, Vulpian Novaes, me chamou para ser a assessora e eu disse: “trabalhar com assessoria de imprensa, de jeito nenhum e de clube, piorou!”. Depois de dois dias, o presidente Ricardo e o diretor Joaquim ligaram pra mim e aceitei. Era uma boa oportunidade, já que tinha acabado de me formar e era um trabalho como jornalista e não um estágio. Fiz um planejamento de comunicação e estou aqui há um ano.

É muito complicado ser assessora de imprensa de um clube?

As pessoas acham fácil, mas é muito difícil. O papel da assessoria é viabilizar a imprensa para com o clube. Agora o clube tem regras, toda empresa tem as suas normas e a imprensa tem que se adequar a isso. Muitos jornalistas dizem que a assessoria foi desenvolvida para atrapalhar o trabalho da imprensa, mas na verdade não é. Tem jornalista que é um saco, não posso citar nomes. Então você tem que impor limite. Tem que ter jogo de cintura.

Você sofre algum tipo de discriminação por parte dos jogadores, torcedores ou até mesmo colegas jornalistas?

Por jogadores não, todos do elenco são meus colegas. Nunca tive problemas com desrespeito e nem enxerimentos. É até melhor para eles já que passa o tempo todo viajando com um monte de homens, uma mulher para conversar besteiras é fundamental e eu também gosto. Prefiro trabalhar com 50 homens a 50 mulheres. Por torcedores já, mas quando eu era repórter. Eles acham que a gente torce por um time aí se revoltam e jogam objetos da arquibancada. Como assessora não sofri nenhum tipo de discriminação, porque não posso ficar no gramado, então nem a torcida alvirrubra, nem a do time adversário me vêem. Por jornalistas também não, até porque quando falamos de jornalismo esportivo estamos nos referindo à rádio. E nesse meio, as pessoas são mais experientes, ou seja, são muito conservadores. O fato de ter uma mulher no rádio é intrigante. Eles ficam com um pé atrás. Eu ainda não tive essa conclusão de preconceito. Acredito que o preconceito está na falta de oportunidade.

Em algum momento você já pensou em desistir dessa área?

De futebol não, de jeito nenhum, muito pelo contrário, esporte é a minha área, não tenho menor problema. A não ser que um dia eu seja empresária, ganhe muito dinheiro aí faço outra coisa. A assessoria é um meio que eu ganho pra mim e faço o que gosto. Quando você é repórter tem a oportunidade de cobrir os três times e como assessora você ‘respira’ apenas um clube. Mas nunca pensei em desistir.

Na sua opinião, qual atitude deve ser tomada para conseguir ter o seu trabalho valorizado no meio esportivo?

Saber de tática, de técnica, enfim, saber de tudo o que o futebol lhe oferece. Você tem que ser o diferencial para não ser apenas mais um. É preciso ler e pesquisar muito.

Qual a sensação de ser a única mulher como assessora de um dos grandes clubes de Pernambuco?

Normal, é a mesma coisa de ser um repórter. Acredito que o fato de você está cobrindo os três clubes é melhor. Como assessora, querendo ou não, você fica ‘bitolada’, só respira um time. Já como repórter, você pode fazer outras matérias como, por exemplo, esportes radicais, vôlei, basquete, etc.

Você se espelha em alguém para exercer sua profissão?

Nunca tive uma admiração por ninguém porque eu não pensava em ser jornalista esportiva, muito menos assessora de imprensa. Conheço Álvaro Claudino que era um ótimo assessor, super dinâmico. De mulher jornalista tem uma repórter muito inteligente, a Geórgia Kyrillos. André Galindo se destaca pela criatividade. Também gosto de Cristiane Dias, aquela menina que fica no lugar de Mylena Ciribelli, no Globo Esporte. Enfim, não é de me espelhar. Acho legal e muito bonito o trabalho deles.

Quais os planos para o futuro?

Meu sonho é ter um programa esportivo no rádio. Acho rádio muito legal, dinâmico e a gente vê poucas mulheres nessa área.

O que você recomenda para as jovens mulheres que desejam entrar no ramo esportivo do jornalismo?

Tem que entender de futebol, ler bastante, saber o que é técnica, qual o esquema tático se é 3-5-2 ou 5-5-1. Depois você precisa fazer um pouquinho de tudo para ver se sua área é escrever ou falar. E se optar mesmo pelo futebol, estude porque geralmente todo mundo diz que mulher não entende nada de futebol então para que não venha mais uma, tem que vir ‘Aquela’. Aqui em Pernambuco temos três jornais que trazem tudo detalhadamente é só ler e se informar. É bom saber o que está acontecendo nos três clubes e se puder os de fora também, então ler sites, essa é a melhor dica vai para a internet que você tem tudo nas mãos.

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